Para contar nossa luta para
amamentar nosso filho, primeiro vou contar brevemente sobre a gravidez e quase
parto.
Engravidei sem querer. Eu sempre
quis um parto normal, desde antes de engravidar, mas JAMAIS imaginei o tanto de
intervenções e violências obstétricas a que são submetidas parturientes num
"parto normal tradicional". Quando descobri chorei, fiquei deprimida
e fui atrás de uma equipe humanizada, cujo plano de saúde não cobria. Apesar
dos pesares, sem saber ainda como pagar, embarcamos nessa. Obstetra,
neonatologista e doula.
Tudo lindo e maravilhoso quando,
às 39 semanas e 6 dias tive o diagnóstico de pré eclampsia. Com exatas 40
semanas internamos para indução do parto, já que o feto estava maduro e
decidimos que não valia a pena esperar e correr riscos. Entrei em trabalho de
parto 2 horas e meia depois do primeiro comprimido para indução. Trabalho de
parto progredindo bem, mas no finalzinho (quando a dor aperta de verdade e o
cansaço bate), mais ou menos 6 horas depois do início, escutei que estava com
rebordo de colo e bebê alto ainda. Na hora pensei no quanto precisava me mexer
e poderia demorar e fiquei desesperada, quis analgesia. Logo depois da
analgesia o bebê teve os batimentos caindo e subindo demais (oscilando entre 45
e 189). E lá fomos nós para a cesárea necessária. Claro que não era o que eu
queria, mas era o que precisava. Sem traumas, o bebê nasceu bem e todos fomos
felizes para sempre, certo? Não exatamente...
Já na maternidade amamentar o
pequeno era uma luta. Ele não acordava de jeito nenhum! Eu tinha colostro, mas
cadê que eu conseguia fazer o bebê mamar? As enfermeiras ajudavam, tirávamos a
roupa dele, mexíamos no pé, orelha, algodão molhado na nuca... com 3 dias de
vida ele tinha perdido quase meio quilo, mas não houve alarde porque todo recém
nascido perde algo em torno de 10% do peso.
Pais de primeira viagem, não
sabíamos direito o que esperar... o bebê chorava a cada 40 minutos e ficava
mais de 1 hora no peito. Eu o via sugando, mas ainda não sabia identificar os
sinais de mamada efetiva. Pra ajudar, houve uma série de desencontros e não
conseguíamos marcar a consulta com o pediatra. Com 20 dias ele acordou quente.
Fazia um calor infernal em Campinas... notamos que ele estava perdendo peso e
começamos a ficar desesperados. Levamos o menino ao PS e a médica disse que a
temperatura estava ok. Insisti, quase implorei para pesar o menino. Depois de
uma “maracutaia” para levar o menino pra pesar no hospital (não tinha balança
no PS), o peso era 2630. Pense numa mãe arrasada: era eu. “A culpa era minha.
Eu não sabia amamentar meu filho e ele corria risco sério por isso.”
A médica quando viu o peso obviamente
internou. E não foi nada legal ver meu filho lá, com soro na veia, fazendo mil
exames de sangue com apenas 20 dias de vida. E eu chorei... chorei a noite
toda, sem parar. As enfermeiras desesperadas porque podia diminuir a produção
de leite, tentando me acalmar, mas nada me deixava aliviada. Apesar de a médica
ter receitado fórmula para complementar, nenhuma enfermeira me deixava dar
fórmula sem antes oferecer o peito e depois ordenhar meu próprio leite para
oferecer no copinho. Meu problema não era falta de leite – este eu tinha até
demais.
Durante toda a gestação eu li
vários artigos, assisti a palestras e procurei me informar de problemas durante
a amamentação. Nunca imaginei que seria super fácil, mas nenhuma vez eu vi
alguém falar que alguns bebês não sabem mamar ao nascer. Mas era isso, meu
filho não sabia mamar. Sugava, ficava horas sugando, mas era a sucção não
nutritiva. Para ajudar, como estava desidratado e hipoglicêmico, tinha menos
força ainda para sugar... No dia seguinte o neonatologista do hospital veio nos
ver bem na hora em que ele mamava, na posição invertida (ele não conseguia
pegar na convencional). O médico foi um anjo, me acalmou e disse que tem bebês
que demoram mais pra “pegar o jeito”. Disse que não precisava complementar
nada, já que eu tinha muito leite e deu alta.
Em casa, ele começou a fazer
força pra sugar... e eu com seios grandes e um mamilo plano e outro
invertido... foi aquele suplício. Machucou, doía muito amamentar. Sarou e
machucou mais outras duas vezes depois dessa. Com toda a dificuldade, chamamos
uma consultora em amamentação para corrigir nossos possíveis erros, que ela
constatou que não havia. A pega estava correta (quando ele pegava errado eu
sempre corrigia), mas os mamilos não ajudavam... eu sempre ordenhava um pouco
antes de oferecer, para que o seio não ficasse como um balão cheio de ar. Mesmo
assim, era difícil... para o meu caso ela orientou que eu usasse as conchas de
base flexível durante o dia (nunca para dormir) e elas me ajudavam a manter o
bico que formava quando ele mamava por mais tempo. Não era lá muito protuso,
mas já era alguma coisa. Banhos de luz ajudaram a sarar os machucados. A
consultora disse que no meu caso ia machucar e sarar até “calejar” (a pele do
mamilo já é super sensível, imaginem uma que era pra dentro!). Também me deu
indicação de pediatra e lá fomos nós...
Pediatras não entendem muito de
amamentação
Pudemos constatar que os
pediatras não entendem muito de amamentação e seus problemas. No mesmo dia
fomos ao pediatra que tinha nos atendido no nascimento do nosso filho e na
indicada pela consultora. O primeiro apenas disse “ok, ele já está recuperando
o peso, nos vemos no fim do mês”. Saí de lá inconformada, porque eu já não me
sentia segura de jeito nenhum. Como saberia que ele não estaria perdendo peso
novamente?
A segunda pediatra nos acusou de
negligência. Ela ficou horrorizada com a magreza do bebê, que a essa altura já
pesava 3.065kg. Não acreditava que eu tinha leite suficiente mesmo vendo meu
peito esguichando leite sem parar. Mandou complementar com fórmula na
mamadeira, o que, óbvio, eu recusei, preocupada com a pega. Nunca vou me esquecer
que ela me olhou com uma cara de deboche e disse, em tom de ironia: “agora você
está preocupada com a pega? Você devia se preocupar com a vida do seu filho,
que está em risco!” (aqui faço um parêntese: sempre recusei a idéia de chupeta
e mamadeira pro meu filho. Não dei e não me arrependo).
Saindo de lá encontrei a
consultora na sala de espera, ia consultar a filha. Contei do complemento e ela
me disse que dali a 5 dias ia na minha casa e me ensinaria a usar a sonda de
relactação. Eu nunca tinha ouvido falar, mas saí dali e fui comprar a tal da
mamadeira... comprei (nunca usei) e achei também o copo com a sonda, que também
comprei. Fui pra casa e, na raça, tentamos a sonda. Foi uma briga... ele
recusava, se irritava, chorava... mas depois de muita insistência conseguimos!
Ele mamou os 30ml da fórmula na sonda e depois continuou mamando no peito.
Assim nós seguimos. A segunda pediatra, apesar de “inquisidora”, nos pedia para
levá-lo para pesar todas as terças e quintas-feiras. E ele foi recuperando o peso:
3.065, 3.200, 3.420, 3.760, 4.450 e 4.660, este último peso no dia 16/12/2014
(ele estava com 2 meses e 2 dias). Desde que começamos com o complemento, nunca
oferecemos em todas as mamadas. Durante este 1 mês e meio que demos o
complemento ele só mamou uma lata pequena do mesmo. E depois desta última
pesagem de 16/12, resolvi tirar e ver no que ia dar. Não foi uma decisão
fácil... não contei para a pediatra porque sabia que ela não apoiaria assim, de
cara.
Dia 14/01/2015 era o dia de saber
como foi o mês sem o complemento. Era visível o ganho de peso dele, mas
enquanto não visse na balança não acreditaria. Pesamos e ele tinha ganhado mais
1.150kg! A pediatra disse que já podia tirar a fórmula (ahahaha!) e fomos
felizes pra casa, com um bebê de 3 meses pesando 5.810 e medindo 60,5cm.
Pitacos e dificuldades
Sobre todas as dificuldades posso
dizer que NÃO TER A FAMÍLIA PERTO ajudou muito. Como toda a minha família e a
do marido estavam longe, não acompanharam de perto a perda de peso e não
tivemos pressão para dar mamadeira. Não é por mal que a família faz pressão, eu
entendo a preocupação, mas sei que isso fez muita diferença no processo. Não é
nada fácil decidir brigar para conseguir amamentar quando seu filho está
perdendo peso e até correndo risco de vida, imagino com a família toda fazendo
pressão! Teve sim uns pitacos do tipo “dá na mamadeira” ou “porque você não dá
chupeta pra ajudar a acalmá-lo?”, mas nada que não conseguíssemos barrar.
Aprendizado
Durante todo esse processo,
aprendi:
1 – que apoio é fundamental.
Puerpério é coisa séria, e com tudo indo muito bem já é um período difícil. Se
há algum problema, como o nosso, sem apoio é quase impossível acreditar que tem
solução;
2 – que para saber se o bebê está
mesmo mamando, é preciso ouvir com atenção. Se faz aquele barulho de
deglutição, ele está mamando;
3 – que era preciso ESQUECER de
vez esse negócio de leite anterior e posterior. Quase fiquei louca tentando
fazer com que o meu filho mamasse o leite posterior (que é o leite rico em
gordura, e que vem depois de um tempo de mamada e que engorda, faz ganhar peso).
Se o bebê está ganhando peso, tudo ok, não tem com o que se preocupar. Se
estiver perdendo, procurar uma consultora em aleitamento materno é o melhor que
se pode fazer. Em minha opinião, melhor que qualquer pediatra, quando o assunto
é amamentação;
4 – a acreditar que meu leite é o
melhor para o meu filho. Se eu duvidasse disso um segundo sequer, teria dado
mamadeira e ele, com certeza, teria desmamado;
5 – a não ter vergonha de pedir a
ajuda de quem realmente pode ajudar. No meu caso marido, doula e consultora em
aleitamento materno. Chorei diversas vezes, me senti um trapo, mas eles nunca
me deixaram duvidar que daríamos a volta por cima.
Gratidão
Serei eternamente grata ao
universo pela minha iluminação, sabedoria e força durante todo esse processo (e
à minha teimosia também, ahahaha!).
Gratidão ao meu marido, que
sempre esteve do meu lado segurando minha mão em todos os momentos. Amamentar
nosso filho foi uma vitória de nós dois e jamais esquecerei disso!
Gratidão à minha querida doula,
Renata Olah, que também esteve ao meu lado em todos os momentos, desde à
gestação, trabalho de parto, cesárea e toda a dificuldade para amamentar. Você
é mais que especial. Serei para sempre sua doulanda e amiga.
Gratidão à querida Mirian Kedma,
consultora em aleitamento materno e amiga, que me ajudou tecnicamente e
psicologicamente. Sem você não teríamos força para continuar insistindo!
A você que me lê
Acredite: o leite materno é o
melhor alimento que seu filho pode ter. Ele tem todos os nutrientes e
anticorpos (e tantas outras substâncias ótimas e importantes que as fórmulas
jamais terão) que o bebê precisa. Leia, busque informações e apoio. A luta é
árdua, mas vale a pena! Amamentar é coisa que não pode ser traduzida em
palavras. É amor puro, é a maior conexão que pode haver entre mãe e filho.
Insista, apesar dos problemas, porque eu posso dizer que vale a pena!
Fabiana Lima.
Primeira foto: no auge do
problema, no berço do hospital com 2.630kg.
Segunda foto: amamentar é dar e
receber amor incondicional.
Última foto: com 4 meses e mais
de 6 quilos.
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