Relato de parto – Nascimento do Pietro

Hoje trazemos para o blog um mega relato de parto de uma ex-participante do GV, a Hellen! O texto é longo, mas vale a leitura de cada linha. Aproveitem e boa leitura!

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O início de tudo

Tudo começou a 6 anos atrás quando conheci meu marido, tinha 18 anos começamos a namorar, 1 ano depois decidimos noivar, após alguns meses nos descobrimos grávidos, o casamento que aconteceria em 1 ano foi adiado, agora eram outros planos e nossa atenção foi voltada toda para essa nova fase e nova vida. Desde criança meu sonho sempre foi ser mãe, era perdidamente apaixonada por bebês e crianças, ajudava a cuidar de qualquer uma que via pela frente, quando via um bebê chegava a chorar! Fui filha única até os 12 anos e de tanto implorar a Deus um irmão(a) minha mãe engravidou sem querer com 38 anos rs.

Voltando aos fatos, mesmo não sendo na hora planejada nossa filha Alice foi muito querida. Em mente sempre quis ter parto normal (não conhecia o parto humanizado e muito menos sabia sobre a existência da grande maioria de médicos cesaristas), fui na GO fofinha de família que me conhecia desde que nasci Dra. Darleia, comecei o acompanhamento com ela e com 4 meses de gestação expressei minha vontade de ter parto normal, e logo ela foi dizendo: “Ah querida, acho melhor não viu, para ter parto normal tem que ter muita força, vc não vai ter força! E olha seu tamanho, você é muito pequena, o bebê não passa nesse quadril não!” Desde quando descobri a gravidez já participava de grupos inclusive um de mães jovens então via muitos relatos, experiências, e já sabia a essa altura que não ter força ou quadril pequeno não era motivo! Então depois dessa consulta nunca mais voltei nela e até hoje fico horrorizada em como ela pode dizer essas coisas, quanta enganação! Preciso registrar aqui que realmente tenho quadril estreito e sou pequena peso 40kg. Minha madrinha na época era Enfermeira chefe no Centro Médico, fui pedir ajuda, se ela conhecia algum GO que fizesse parto normal, foi aí que ela me indicou a Dra. que me acompanhou a partir daí. Essa GO sim acreditava em mim, era atenciosa, consultas longas e explicativas, porém ela não era humanizada e eu ainda não conhecia sobre! A cesárea da Alice!

Tudo acorreu bem até que completei 29 semanas e no ultrassom deu placenta grau 3 (placenta envelhecida), toda placenta envelhece até o final da gestação porém eu ainda não estava no final, e a informação que recebi da GO foi que teríamos que acompanhar semanalmente, pois a placenta poderia parar de nutrir a Alice a qualquer momento. Nota: minha mãe é enfermeira, então já viu né? Ela já presenciou coisas terríveis na sua formação, inclusive partos normais “anormais” daqueles que a mulher fica deitada, grita e ninguém ajuda, não come nem bebe durante o trabalho de parto, cortam embaixo para a saída do bebê sem anestesia e etc. Eu e minha irmã nascemos de cesariana e para ela, a mesma, é a melhor opção sem dúvidas! Ela até apoiava minha vontade de ter normal mas sempre que dava jogava: “você tem certeza?”, “vai ter coragem?”, coisas desse tipo.

Quando ela ficou sabendo da minha placenta envelhecida ela pirou, me ligava todos os dias pra saber se estava bem mesmo, contou para minha tia que me ligou chorando entre outros. Resumindo além da pressão de fazer exames toda semana e tinha a pressão da família e com 37 semanas foi marcada a cesárea, me conformei, até porque, que mãe sabendo que seu filho poderia parar de ser nutrido a qualquer momento ia deixar a situação assim? (Anos mais tarde, conhecendo a humanização e conhecendo os fatos reais aprendi que placenta grau 3 não para de nutrir o bebê assim de uma hora para outra e muito menos é motivo de cesárea). Mas lá fui eu, achei tudo lindo, deu tudo certo, ela nasceu bem e grande para uma bebê de 37 semanas com 3.200kg e 47,5cm! (ué minha placenta não era velha e incompetente??). Mas no fundo algo estava vazio, sem cor, precisava ser preenchido. Mas afinal, estava tudo bem né, tinha uma filha linda e saudável, deixa isso pra lá, o desejo de ter um parto normal agora parecia só um egoísmo de minha parte.

Mais uma nota: Como minha filha nasceu com uma equipe convencional e não humanizada, ela passou por todos os procedimentos desnecessários e agressivos que um bebê passa quando nasce: aspiração, banho, colírio de nitrato, ah colírio de nitrato! Essa porcaria que não serve para nada queima o olho da criança e ainda obstruiu o canal lacrimal da Alice, ela ficou com um dos olhos inchado lacrimejando até 1 ano de idade! Só não passou por uma cirurgia porque pedimos muito a Deus e o problema foi resolvido sozinho, mas só com 1 ano de idade! Agora vc se pergunta: porque tanta agressão com um bebê? Porque a obstetrícia no Brasil é uma porcaria! A recuperação foi ruim, fazia tudo sozinha desde o segundo dia, mas doía e muito até hoje dói! A Alice foi levada pra longe de mim, só fui vê-la 2h depois do parto. Bom, chega de revoltas e voltemos ao relato. Sou fotógrafa e sempre estou em contato com gestantes foi aí que conheci as lindas Patrícia e Carol, que me contaram um pouco sobre o parto humanizado, foi aí que entrei em grupos na internet, e conheci mamães que tiverem parto natural após cesárea. Aí tudo fez sentido, aprendi sobre os mitos do parto, sobre os milhares de motivos que os médicos dão para enfiar goela abaixo uma cesárea nas mulheres, e o porque eles fazem isso. Bom, quando minha filha completou 11 meses me casei oficialmente.

Em Setembro de 2012 descobri que estava grávida novamente. Comecei o pré-natal com a mesma médica que fez o parto da Alice até encontrar algum humanizado em Campinas. Porém com quase 8 semanas de gestação descobrimos que o bebê não tinha desenvolvido. Foi um choque terrível! Não entendia como isso poderia acontecer comigo, foi a fase mais difícil de nossas vidas. Tenho pavor de procedimentos médicos, até para tirar sangue pago mico rs então junto a GO decidi esperar o corpo eliminar sozinho e não quis curetagem. O processo natural só foi acontecer com 12 semanas. Foi muito difícil, mas passou, hoje sei que aquilo tinha que acontecer, tinha um motivo, me mostrou o quão forte posso ser.

A gestação do Pietro
O tempo passou e em Janeiro de 2013, 3 amigas minha sonharam que eu estava grávida, uma delas até me disse o sexo do bebê! Eu só dava risada e dizia: quem sabe um dia né...não planejávamos nada, até porque ainda não tínhamos superado a perda ainda, e me sentia incapaz, tinha medo de acontecer de novo.

Um mês depois em Fevereiro nós paramos em uma farmácia para comprar remédios e eu fiquei no carro com a Alice, antes do André descer senti algo no coração e pedi para ele comprar um teste, ele me olhou com uma cara de assustado e perguntou se eu sabia de alguma coisa que ele não sabia, e eu disse que não, nem atrasado estava! Mas senti que deveria fazer! Chegando em casa fui para o banheiro e ele foi cuidar da Alice na sala, fiz o teste botei em cima da pia e resolvi que só iria olhar depois dos 5 minutos que pedia a embalagem, esperei e quando olhei estavam lá as duas listras! Dei um grito: “André! Positivo” ele veio dando risada e falando “Pegadinha do malandro né”, mas quando ele abriu a porta e me viu chorando ele já ficou branco, verde, azul, amarelo rsrs...ele me abraçou e foi um misto de sentimentos naquele momento, felicidade, medo, surpresa, angustia, tudo! Para nós foi realmente um presente de Deus, não importa a circunstancia, hoje analisando todos os fatos temos a certeza de que foi Deus dizendo: Agora é a hora, chegou sua vez, o choro pode durar uma noite mas a alegria vem pela manhã!

Eu senti desde o primeiro minuto que era a minha chance de conseguir meu parto e que esse bebê viria para resgatar tudo que havia perdido, a confiança em mim mesma, autoestima... Comecei o pré natal com a GO da Alice ainda, até que conseguimos o contato de uma GO humanizada, marcamos a consulta, fui atrás de tudo que pude, grupos de apoio, não perdia uma reunião e foi super importante, me dava forças, tirava minhas dúvidas...Li muito sobre parto, mitos, me informei demais (é, infelizmente hoje vc precisa praticamente se formar em obstetrícia para conseguir um parto digno!) e defini minha doula a Renata Olah que me ajudou o tempo todo, se tornou uma amiga mesmo! A gestação foi um pouco mais difícil, enjoos fortes, dores em tudo quanto é lugar, mas no geral foi tranquila, não tive maiores problemas. Com 12 semanas descobrimos o sexo, eu já sabia pois só conseguia ver coisas na cor azul, um menino! Pietro! As contrações de treinamento começaram cedo, antes das 20 semanas, e depois começaram a vir com dor, bastante dor! O André até brincava falando que quando eu entrasse em trabalho de parto não perceberia.

Tudo caminhava muito bem, no finalzinho da gestação em um dos grupos de apoio conhecemos melhor a Dra. Mari Simões (Também humanizada), ela também está grávida e frequentava o grupo, a afinidade foi no mesmo momento, marcamos uma consulta com 37 semanas e adoramos! Bom estava tudo certo, e só restava aguardar o momento dele, em que ele nos diria que estaria pronto para vir ao mundo. Minha data provável do parto era 28/11, no dia 22/11 em uma sexta feira com 39 semanas, minha doula veio em casa trazer a bola de pilates para eu fazer uns exercícios e para conversar, lembro muito bem dela dizendo antes de ir embora: “quem sabe não volto aqui amanhã” parecia que ela sabia o que ia acontecer rs.

Fomos dormir, de madrugada sonhei que minha bolsa tinha estourado e acordei, senti descer um pouco de líquido mas fiquei apreensiva e com preguiça de levantar e resolvi voltar dormir. Quando foi umas 7h da manhã acordei com mais liquido descendo acordei o André e fui para o banheiro e quando sentei no vaso começou a sair como se fosse xixi, saiu por alguns segundos e parou. Levantei coloquei um absorvente e o André mandou mensagem para doula. E seguimos o dia normalmente. Tomamos café, fomos na Loja de bebês comprar umas besteirinhas que faltava e uma faixa decorativa para o quartinho, enquanto eu andava sentia saindo ainda o liquido, mas era sempre em pouco quantidade, saia e parava e junto uma cólica igual a cólica menstrual, e algumas contrações leves. Depois fomos almoçar, comi tudo que tive vontade naquele self service rs Depois fomos na casa de materiais para construção comprar cola para a faixa, e aí senti que estava começando a apertar as dores e sair mais líquido, mas eu estava bem.

Chegamos em casa o André preparou a cola, eu colei a faixa e ele me ajudou. Depois fui fazer a unha, não tinha dado tempo nos dias anteriores, fui arrumar minha mala maternidade, ajeitar a casa, a dor ia aumentando aos poucos mas ainda dava para fazer as coisas, quando vinha a contração sentava um pouco depois continuava o que estava fazendo. Era totalmente suportável.

Quando deu 19h, pedi para o André ligar para minha mãe vir buscar a Alice, porque senti que logo ia engrenar o trabalho de parto, ela veio e se desesperava quando via minha cara quando vinha a contração (isso que eu só fazia uma caretinha de nada rs) e mesmo dizendo que eu estava bem sentia o clima de preocupação dela. Umas 19:30 eu pedi e ela foi embora. A partir daí engrenou, as contrações ritmaram de 3 em 3 minutos, estava muito calma sabia perfeitamente o que estava acontecendo e o que aconteceria comigo e com meu corpo graças as informações que adquiri nos grupo, foi fundamental! Entrei no chuveiro sentei em um banquinho e deixei a água quente cair nas costas, barriga...por uns 20 minutos, cansei, começou a dar calafrio e saí...Minha vontade depois disso era ficar sozinha! Por mim ficaria ali no meu quarto sozinha até o Pietro nascer! Mas sabia que não poderia ser assim pois escolhemos parto hospitalar, e eu precisaria da doula para dizer qual o momento certo de ir para a Maternidade.

Pedi então para que o André a chamasse, ela chegou por volta das 20h e pouco. Ela foi até meu quarto sentou no chão e ficou conversando com o André, eu conversava também mas sem vontade nenhuma, minha vontade era de me concentrar no meu corpo e nas contrações, era involuntário! O André sugeriu irmos para a sala, e lá fiquei sentada na bola que ela tinha levado no dia anterior, que maravilha aquela bola! Quando vinha a contração eu rebolava como tinha aprendido nos grupos, ajudava bastante! A Dra. Mari havia comentado que estava com muitos partos perto do meu, então que quando eu entrasse em trabalho de parto ela enviaria uma enfermeira para me acompanhar em casa, quem veio foi a Alana, chegou com uma mala, tirou o aparelhinho e escutou o coração do Pietro, tudo ok! Tentaram me fazer comer uma maçã, comi 1 pedacinho e não quis mais, não queria e nem conseguia comer!

A Rê apagou a luz, colocou uma luz alaranjada fraca, ligou uma música pra mim, tudo ficou bem sereno e tranquilo. A partir daí as contrações engrenaram de uma forma que não conseguia mais ficar quieta, quando vinha tinha que dizer: “ahhhhh” era involuntário. O tempo todo ficava de olhos fechados bem concentrada mesmo, quando passava a contração abria para espiar: a Rê atrás de mim fazendo massagem sempre e dizendo “é menos uma contração, vc está indo bem”, a Alana do meu lado no sofá anotando as contrações e o André na minha frente, quando vinha contração eu grudava nele rs. Eles conversavam entre eles mas eu não entendia nada! Era como se estivesse bêbada sei lá, lembro de uma hora eles perguntarem alguma coisa pra mim relacionado ao assunto que conversavam e eu respondia: “hãm?” perguntavam de novo e eu “o que?”...rsrs acho que estava na partolândia que todo mundo dizia que teria esse estágio do parto. No grupo também uma certa vez uma parteira foi dar uma palestra e lembro dela contando do parto dela, que era como se ela estivesse em um mar turbulento as contrações eram as ondas, e eu vivi a mesma experiência, quando vinha a contração lembro que era como se me afogasse mesmo, era uma sensação super intensa, mas passava quando a contração ia embora.

Posso dizer com plena certeza de que não sofri no meu parto, foi uma experiência incrível! Sentir seu corpo trabalhando o tempo todo por conta própria, toda aquela intensidade, é demais! Acredito que era umas 21h quando a Alana fez o primeiro toque, estava com 6cm! Fiquei tão feliz, pensei: “Nossa que rápido, nem sofri ainda, cadê o sofrimento todo que todo mundo fala por aí?” Voltei para a bola, depois de um tempo sugeriram eu ir para o chuveiro, resolvi tentar, para andar já estava difícil, sentia um peso/pressão lá embaixo muito forte, fiquei uns 15 minutos acredito embaixo da água e a Alana foi lá monitorar o coração do Pietro no chuveiro mesmo, tudo ótimo! Começou a dar calafrio de novo, resolvi sair, sentei no vaso, não conseguia ficar em pé muito tempo, incomodava bastante aquela pressão, e aí começou a me dar enjoo, a Rê a Alana disseram que era normal naquela fase. Levantei fui para a cama e a Alana fez mais um toque: 8cm! Então elas falaram que era melhor já ir para o hospital...isso era em torno de meia noite...

Nota: Perdi a noção total do tempo depois que minha mãe foi embora de casa, só sei dos horários porque me contaram, porque pra mim parece que tudo durou 1hora rs, foi tudo muito rápido na minha percepção. O André foi levar tudo para o carro, e elas me ajudaram a me trocar, e na hora de ir, pedi para esperar dar uma contração, porque aí eu desceria quando ela fosse embora, não queria fazer barulho no corredor do prédio! Então descemos rapidinho entrei no carro no banco de trás com a Rê e a Alana foi no carro dela. A minha preocupação durante a gravidez era essa parte do transporte para o hospital, pensei em como seria incomodo e sofrido, mas fui sentadinha normalmente, quando vinha a contração soltava o meu “ahhhhhhhhh” e só rs...acho que o André estava nervoso porque voou com o carro! Chegou na Maternidade em 5 minutos kkk...

Ele parou na porta e eu toda linda esperando a cadeira de rodas ou uma maca né, não é assim que agente vê nos filmes? Que nada! A Rê falou pra esperar a contração passar e ir andando, e lá fui eu, entrei na maternidade andando sentei na recepção e fiquei esperando o André dar entrada na internação. Isso era 1 e pouco da manhã! Lógico que quando vinha a contração eu soltava o “ahhh” de novo, e aí que os pacientes e as barrigudas que estavam aguardando para passar com o GO foram perceber que se tratava de uma mulher em trabalho de parto, me olhavam como se eu fosse um ET de bolinhas rochas, do jeito que esse mundo obstétrico está acho que esqueceram que é possível um bebê nascer de parto normal rs...a Rê ficou de pé na minha frente pra me tampar e me poupar dos olhares, e logo a Dra. Mari chegou. Agora sim, acho que ela vai chamar uma cadeira de rodas né? Como vou subir andando? Que nada! Lembro dela dizendo: “Nós vamos andando, vc está ótima” e lá fomos nós. Chegamos no quarto perguntaram se eu queria ir para o chuveiro, eu disse que não, a Mari foi verificar minha dilatação e disse: “quanto você acha que está?”

Nessa hora as contrações estavam mega fortes já, essa caminhada até o quarto foi porreta, senti que o Pietro tinha descido mais, como a dor estava mais intensa queria matar ela kkk tadinha. Só respondi: “Não sei” e ela toda orgulhosa disse: “Vc já está de 9cm!” Aí pensei: caraca e não é que toda mulher pode parir mesmo?? Já cheguei até aqui, e nem foi tão difícil” A Rê chegou com a bola sentei nela e não queria sair mais, a coisa já estava “punk”, ficar em pé era uma tortura, muita pressão lá, as contrações super intensas.

Aí eu arreguei não pela dor, mas por um medo que tomou conta de mim. Pedi anestesia. Eu disse: “Só um pouquinho” e fazia aquela cara do gatinha do Shrek sabe? rs Pra quem não sabe, a anestesia só atrapalha o parto na maioria das vezes, regride ou pode trazer várias intervenções como por exemplo o fórceps, claro se ela for muito necessária tudo bem, mas no meu caso a Dra viu que não era! Então ela, a Rê a Alana conversaram comigo me tranquilizaram, mas nessa hora eu só tinha vontade de manda todo mundo pra aquele lugar rs .

Então a Mari com todo jeitinho do mundo disse: Sua bolsa ainda não estourou totalmente, vamos estourar ela e depois eu chamo o anestesista (mas na verdade ela sabia que estourando o Pietro desceria e nasceria rápido) e eu também sabia!! Rs então disse que não queria...eu estava com medo, aí o André e a Rê disseram que seria melhor e eu já estava ficando cansada e disse que tudo bem. A Mari explicou que seria durante uma contração, então sentei no banquinho de parto (é um banquinho aberto só apoia as pernas e atrás do bumbum, aí agente fica como se estivesse de cócoras). Estava eu ali agachada e a Dra. Mari sentada de “ indinho” na minha frente verificando a dilatação e onde ia estourar a bolsa e lá veio ela, uma contração MUITO forte, senti uma pressão bem grande olhei pra Mari ela arregalou os olhos, levantou voando (não consigo lembrar disso sem rir, ela levantou tão rápido que nem sei como ela conseguiu!) e gritou: “Chama uma maca, tá nascendo”!! E aí foi uma correria, por um momento até esqueci que estava parindo, fiquei assustada com a notícia. Como assim? Nascendo?? Já?? Mas nem me prepararei psicologicamente ainda!! Já dilatei tudo?? É só isso?? Cadê o sofrimento da morte?? Cadê??

Me colocaram na maca e fomos para o centro obstétrico, me desceram da maca e me colocaram no banquinho de novo, a melhor posição para se ter um bebê é na vertical eu sei, mas aquele banquinho achei uma saco! Rs Bem desconfortável, por mim teria sentadinha em uma banheira, com uma água bem morninha, hum!! Quem sabe no próximo parto...rs Mesmo assim sabia que era melhor do que estar deitada como em um parto convencional, deitada as contrações são piores, então sentei e ali fiquei. A Alana sentou atrás de mim para me apoiar num abraço gostoso! A Mari sentou na minha frente de pernas dobradas de “indinho” novamente e a Rê ficou do lado. Falaram para eu por a mão que ele já tinha coroado, coloquei e lá estava aquela cabecinha cabeluda, quentinha! E eu pensava: “ é verdade mesmo, ele está aqui, está chegando”! Depois o André chegou, só depois ele foi me contar que não deixavam ele entrar porque ele estava sem a roupa do centro obstétrico, na correria esqueceram de dar pra ele rs. Quando ele chegou a Alana saiu e ele sentou atrás de mim me apoiando, a nessa altura do campeonato as contrações estavam uma atrás da outra super intensas e a vontade de gritar até cuspir os pulmões era involuntário! Era uma força muito grande que vinha de dentro de mim. Gritar me ajudava! Com uma mão eu apertava bem forte a mão do André e a outra sentia o Pietro.

Mesmo sendo hospital o clima era bem tranquilo, como deve ser, parto não é doença nem procedimento hospitalar para ter que ficar com panos e mil aparelhos em cima de você, é um evento natural. Tudo estava bem sereno e descontraído. Mas eu ali no meu mundo, concentrada, esse momento foi divino, indescritível, se tem algum momento de ligar com a natureza, com seu corpo e com Deus, o momento é esse! Se orgulhem mulheres, só nós podemos vivenciar isso! A Dra. perguntou se o André queria ir ali na minha frente receber, pegar o Pietro quando nascesse, mas eu disse que não, precisava deli ali me dando apoio. Foi aí que pensei: Na próxima contração ele vai nascer! E assim foi, ela veio com tudo fiz 1 força e ele nasceu! De uma vez! A bolsa só foi de desfazer mesmo nesse momento. A Mari recebeu ele e já me deu, aquele bebezão lindo, perfeito, cabeludo, sujinho, quentinho, que sensação! Que presente! Fui trazer ele para perto de mim e peraí! O cordão estava todo enrolado nele, barriga, braço, pescoço rs e sim ele estava ótimo, bebês não se enforcam! Eles não respiram pelo pulmão para ser enforcado pelo cordão! Desenrolei tudo e trouxe ele para meu peito. Ele fez xixi em mim rs. E ali era só nós 3 o André, eu e o meu príncipe.

Nós chorávamos, e eu dizia: “Oi meu amor”. E pensava: Cadê a menina pequena que a Dra Fofinha dizia? Cadê aquela força toda que eu teria que fazer e não ia conseguir? Cadê meu quadril
pequeno? Eu consegui! Toda mulher nasceu para isso. Pietro nasceu a 2:08 da manhã do dia 24/11 com 3.220kg e 48cm de um lindo parto natural de 7h de duração no total. Ele ficou ali com agente, a placenta saiu logo em seguida, a Rê tirando muitas fotos. A pediatra chegou correndo atrasada rs depois que cheguei no hospital foi tudo muito rápido ele nasceu em 1h. Não foi feito nenhum procedimento desnecessário nele, nada de aspirar, nada de banho nas primeiras horas, nada de colírio. Ele ficou comigo e com o pai o tempo todo. A Mari suturou uma leve laceração que tive e fui para o quarto. Me senti bem fraca depois pois estava sem comer desde o almoço, então tomei soro. Nem consegui dormir era muita emoção, tomei banho depois do almoço, recebi visitas de tarde e no dia seguinte de manhã já recebi alta.

Conclusão
Para mim o parto foi a experiência mais incrível que poderia ter vivido nessa vida, me transformou como pessoa, mulher, mãe! O parto é presente de Deus ao meu ver, toda mulher deveria ter o prazer de passar por isso. O parto só é sofrido quando a mulher não é respeitada, não se informa, sofre violências obstétricas ou procedimentos desnecessários. Dor? Sim, muito! É muita intensidade, mas se pudesse trocaria essa palavra “dor”, pois associamos dor a coisa ruim e a dor do parto não é ruim, não sofri, não vi a morte como dizem, e sei que isso foi possível porque fui respeitada o tempo todo, fiz o que queria o tempo todo e me preparei de todas as formas que poderia. Não me preparei fisicamente confesso, sou super sedentária rs e me arrependo, poderia ter me saído melhor ainda, mas isso não me atrapalhou.

Mitos do parto que vivenciei? 
Cordão que enforca e mata: Mentira! Pietro nasceu todo enrolado. 
Quadril estreito: Mentira, Pietro nasceu grande e lindamente rápido. 
Mãe pequena: Peso 40kg 
Não tem força: Tenho e muita!! Rs O corpo trabalha por si só, não precisamos fazer praticamente nada.
Cesárea anterior, não pode ter parto normal: Mentira!

Espero muito poder ajudar e encorajar com meu relato mulheres que queiram passar por essa experiência.

Agradecimentos: Dra. Mariana Simões; minha doula querida amiga Renata Olah;  pediatra Ana Paula que recebeu Pietro e Dra. Otília que o atende agora; Grupos de apoio Samaúma, Vínculo e Arte de Nascer; as mulheres que também tiveram parto humanizado e me ajudaram nessa caminhada (são muitas para colocar aqui) e meu marido, que me apoiou e esteve ao meu lado o tempo todo, te amo!